por Marcelo Costa
Entre coletâneas de A sides (sucessos), B sides (raridades) e álbuns ao vivo, Morrissey soma sete discos (este “Greatest Hits” incluso) em uma discografia solo que totaliza apenas oito álbuns. Isto posto, não deixa de soar picaretagem do velho bardo dos Smiths impingir ao fã mais uma seleção de seus maiores sucessos, mesmo que o grosso do repertório seja retirado de seus últimos dois álbuns (que serviram para apresenta-lo a um público maior do que aquele que Morrissey vivenciou quando cantava ao lado de Johnny Marr) e lembrando que tanto “Everyday Is Like Sunday” quanto “Suedehead” já apareceram em uma coletânea do velho Mozz três vezes cada uma!!!
A imprensa gringa alerta que o cantor estava sem dinheiro para gravar o novo disco, e por isso decidiu lançar mais uma coletânea de sucessos, o que soa ainda mais picareta. “You Are The Quarry” (2004) e “Ringleader Of The Tormentors” (2006) venderam juntos aproximadamente 2 milhões de exemplares, e mesmo que Morrissey tivesse gastado sua fortuna comprando edições raras de livros de Oscar Wilde, alguns trocados iriam sobrar para enfurnar sua banda em um estúdio qualquer e lançar mais um grande álbum de inéditas. E olha que estou deixando de lado os shows “sold out” que o bardo vem amontoando pelo caminho. Dinheiro não deve ser problema para Stephen Patrick Morrissey, vamos combinar.
No entanto, apesar da picaretagem, o homem sabe muito bem como satisfazer seu público, e isso é inegável. As artimanhas de “Greatest Hits” são poderosas. Ao tracking list de 15 canções (quatro de “You Are The Quarry”, quatro de “Ringleader Of The Tormentors”, mais “Redondo Beach” – cover de Patti Smith retirada do ao vivo “Live At Ears Court” – e as inevitáveis “Everyday Is Like Sunday”, “Suedehead” e “The More You Ignore Me, The Closer I Get”), Morrissey apresenta duas poderosas canções inéditas, e inclui em uma versão luxuosa do álbum um CD bônus com oito canções gravadas ao vivo no Hollywood Bowl, em Los Angeles, em agosto de 2007. Mais: nas três diferentes versões do novo single “That’s How People Grow Up” surgem mais faixas ao vivo (entre elas, “The Boy With The Thorn In His Side” ao vivo em Omaha).
As faixas ao vivo são aquilo de sempre: uma banda afiada, grandes canções e o vocal de Morrissey cantando como se estivesse distribuindo filetes de seu coração partido para um público apaixonado. “The Last Of The Famous International Playboys” (que abre o CD bônus da coletânea) aparece em uma versão arrasadora. “The National From Disco” surge inferior à demolidora versão do álbum “Beethoven Was Deaf”. Antes de uma linda versão de “Let Me Kiss You” ele agradece – humildemente – ao público que superlotou os mais de 17 mil lugares do lendário Hollywood Bowl para vê-lo após 15 anos sem pisar naquele palco. O CD bônus ainda traz versões acachapantes de “I Will See You in Far Off Places”, “Life is a Pigsty” (duas das melhores canções de “Ringleader Of The Tormentors”), “Irish Blood, English Heart” e “First of the Gang to Die”.
A cereja no bolo, porém, são as duas faixas inéditas. “All You Need Is Me” é rápida e suja, com um baixo carregado de distorção disputando a atenção com a voz de Morrissey. Na letra, o bardo desfila uma relação de amor e ódio cujo verso final resume tudo: “Você não gosta de mim, mas você me ama / De qualquer forma você está enganado / Você vai sentir saudades quando eu tiver ido embora”. Morrissey é especialista em retratar o amor doentio. “Você revira os olhos para o céu / Zomba horrorizado, Mas continua aqui / Tudo o que você precisa sou eu // Há tanta destruição por todo o mundo / E tudo o que você consegue fazer é / Reclamar de mim // Você bate a cabeça contra a parede / E diz estar farto de tudo / E ainda assim, permanece / Tudo o que você precisa sou eu”. Cruel como só Morrissey consegue ser.
Comparada com o vasto acervo de canções arrebatadoras de Morrissey, “All You Need Is Me” é bem mediana, e fica ainda mais apagada se comparada ao poderoso single “That’s How People Grow Up”. Um vocal feminino fantasmagórico abre a canção. As guitarras são sujas e o baixo acompanha. Quando a voz de Morrissey entra, ela mastiga as palavras com delicadeza e estica o “loooove” no final das frases com muito charme. O refrão é pop e grandioso com um teclado fazendo a cama para que a melodia vocal deite-se e sorria enquanto espeta: “É assim que as pessoas crescem, yeah, é assim que as pessoas crescem”. Só por essa música, “Greatest Hits” (apesar da picaretagem) merece uma segunda chance, um olhar menos punitivo. Morrissey deve estar rindo enquanto bebe mais uma cerveja direto da lata. Ele conseguiu, mais uma vez, dobrar o coração de seus fãs, colocá-lo no bolso como um lenço de papel e deixar ali para quando tiver necessidade de enxugar o suor do rosto. Poucos conseguem fazer isso tão bem. Poucos;
A letra de “That’s How People Grow Up”, uma das melhores de Morrissey nos últimos anos, você pode ler abaixo. A edição especial de “Greatest Hits” não tem previsão de lançamento no Brasil.
É Assim Que As Pessoas Crescem
Tentando me apaixonar
A decepção veio até mim e me chutou
Me encheu de hematomas e me feriu
É assim que as pessoas crescem
Eu estava desperdiçando meu tempo
Procurando por amor
Alguém deve olhar para mim
E ver que há alguém dos seus sonhos
Eu estava desperdiçando meu tempo
Esperando por amor
Pelo amor que nunca vem
De alguém que não existe
É assim que as pessoas crescem
É assim que as pessoas crescem
Me deixe viver antes que eu morra
Oh, eu não, a mim não
Eu estava desperdiçando minha vida
Pensando o tempo todo sobre mim mesmo
Alguém em seu leito de morte disse:
“Existem outros infortúnios também”
Eu estava dirigindo meu carro
Eu bati e quebrei minha coluna
Então, sim, há coisas piores na vida
Do que nunca ser o querido de alguém
É assim que as pessoas crescem
É assim que as pessoas crescem
Quanto a mim, tudo bem
Por enquanto, de qualquer maneira
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do site Scream & Yell
Adoro o Morrissey e seu comentário sobre o cd foi fantástico! Parabéns!
Desde que surgiu para o mundo da música há quase 25 anos, Morrissey é o maior letrista vivo. Não importa quantos Greatest Hits lance…é sempre fundamental ouvir o bom e velho Moz.
É…… Mesmo depois de tanto tempo o Morrisey continua TUDOOOOO!!!!! O cara tem charme e presença no palco! É um verdadeiro artista que realmente sabe como comover as pessoas; pegando fundo no nosso maior sentimento: o amor!
Soa meio canalha mesmo mais uma coletanea. Mas Morrisey é sempre melhor que muita coisa por ai. 🙂
Outra coletânea? Everyday is like the same, isso sim. Morrissey é bom e tudo mais, mas outra coletânea é uma vergonha. Vou baixar e não comprar.
Oi Mac,
Estou sempre por aqui ;),
mas…nos comentários, sempre atrasada 🙂
Procuro escolher a “dedo” suas indicações, ae…ouço, algumas eu traduzo ae então…posso falar com propriedade de ter ou não gostado, heheheh
Atualmente estou curtindo muito Morrisey, já até conhecia ‘First of the Gang to Die’ mas…amei de paixão ‘Let me kiss you’.
Também ando ouvindo R.E.M. heheheh e vale a pena ressaltar…que gostosinho…
Bem amiguinho, é isso ai!
Desculpe pelo atraso em agradecê-lo, mas…todo tempo é tempo!!!
beijão
Morrissey , vem logo ao Brasil novamenteeeeeeee !!!!!!!!!!
Na maioria das vezes as coletâneas são de responsabilidade das gravadoas, que, visando somente os lucros que um grande artista, que já não faz mais parte da gravadora, pode angariar, procuram a maneira mais vil de denegrir a imagem do artista. Morrissey não precisa disso e até já li uma entrevista onde ele pede para os seus verdadeiros fãs não comprarem essas coletâneas. O Morrissey é como o vinho e qualquer coisa que ouvirem em oposição a isso é blasfêmia e deve ser punido severamente no juízo final.